A joalheria como poética
A joalheria como poética
Aglaíze Damasceno
Brasil
Outubro 2010
A joalheria como poética
Aglaíze Damasceno
Brasil
Outubro 2010
Faremos aqui uma breve abordagem sobre a joalheria enquanto poética nas artes visuais, artistas que desenvolveram e/ou desenvolvem tanto adorno quanto o uso de materiais referentes ao universo joalheiro.
Não é de hoje que artistas das Belas Artes utilizam a joalheria como suporte, vamos citar como um primeiro exemplo o francês René Lalique. que em 1900 já afrontava as regras da concepção formal da joia. Em uma época em que a joalheria era considerada uma arte menor, cujas tradições estilísticas da época ditavam a criação joalheira, Lalique passou a utilizar materiais inovadores na concepção de suas peças. Usou o esmalte e a madrepérola como possibilidades na paleta cromática de suas peças e buscou temas insólitos, como gafanhotos e serpentes em suas peças.
As nove serpentes estão em posição de ataque, entrelaçadas elas formam um nó, entre os corpos de oito delas, ao centro, ergue-se a nona serpente. Esta é, provavelmente, a única réplica existente, que encontra-se no Museu Calouste Gulbenkian, em Lisboa, Portugal.
Lalique também teve um olhar atento a nudez ao expressá-la em seus trabalhos, tal gesto trouxe para a joalheria o elemento escultórico; esses elementos combinados deram uma visão peculiar e minuciosa do mundo natural, visá esta, influenciada pela literatura simbolista, a arte japonesa e ainda os movimentos artísticos de vanguarda que deram origem à Art Nouveau. Vale observar que além de ter realizado a ourivesaria e a joalheria, Lalique agiu criativamente em outras áreas, desenvolveu atividades usando o vidro e o desenho em diferentes campos das artes.
Entre os artistas internacionais conhecidos do grande público temos: Pablo Picasso, Tanguy, Man Ray, Georges Braque, Lucio Fontana, Salvador Dali, Max Ernst, Jean Arp, Alexander Calder, Robert Indiana dentre outros. No Brasil podemos citar alguns nomes como Amélia Toledo, Tunga, Rubens Gerchman, Cildo Meireles, Arthur Luiz Piza, Anna Bella Geiger, Amílcar de Castro, Tomie Ohtake, Antonio Dias, Lygia Pape, Nelson Leirner, Adriano de Aquino, Beatriz Milhazes, dentre outros.
Se voltarmos alguns séculos atrás, ou se olharmos para o surgimento da civilização, veremos que as joias e talismãs estiveram sempre presentes entre homens e mulheres. Os metais nobres e as pedras preciosas como o diamante, a safira, a esmeralda, o rubi... fascinam e despertam o desejo pelo belo. O belo, que para Charles Baudelaire é constituído por elemento eterno, invariável, cuja quantidade é excessivamente difícil determinar, e de um elemento relativo, circunstancial, que será, se quisermos, sucessiva ou combinadamente, a época, a moda, a moral, a paixão1. Para Wassily Kandinsky, esse belo de que o artista é o sacerdote deve ser procurado apoiando-se no princípio do valor interior (...) É belo o que provém de uma necessidade interior da alma2.
Em Cildo Meireles, artista plástico carioca que iniciou seus trabalhos conceituais na década de 60, além da referida necessidade interior da alma, podemos dizer que o belo existe como fisicalidade, da relação do objeto com o espaço, como por exemplo no trabalho Cruzeiro do Sul, 1969-1970.
Além da relação do objeto com o espaço, Meireles busca também a relação do objeto com o corpo, nesse sentido a escala do objeto muda completamente quando ele busca o suporte do corpo... no movimento entre espectador e obra.
Em Condensados, o artista busca na joalheria a expressão plástica de seu trabalho, a poética é construída em uma série de anéis realizados na década de 70 em diferentes materiais. Quando ele começou a produzir a série, não tinha uma preocupação política imediata, estava envolvido com questões formais e cerebrais. Um dos trabalhos realizados na época é Condensado II – Mutações geográficas: fronteira Rio/São Paulo, 1970.
Um pouco mais do trabalho e do processo criativo de Cildo Meireles...
Aglaíze Damasceno, Outubro 2010