4a edição da Triennale Européenne du Bijou Contemporain Portugal-Bélgica-Alemanha
Exposições e conferências de 29 de Outubro de 2011 a 15 de Janeiro de 2012
WCC-BF, Bélgica
4a edição da Triennale Européenne du Bijou Contemporain Portugal - Bélgica -
Alemanha Exposições e conferências de 29 de Outubro de 2011 a 15 de Janeiro
de 2012 WCC-BF, Bélgica
Este ano Portugal é um dos países convidados a estar representado na 4a
edição da Triennale Européenne du Bijou Contemporain. 2o artistas foram
seleccionados a estarem presentes.
Para além de Portugal, a Bélgica - país anfitrião - convidou a Alemanha.
São ao todo 60 artistas, 20 de cada país representados nesta exposição.
No âmbito da 4ª edição, que inaugura dia 28 de Outubro próximo e, que estará
patente de 29.10.2011 a 15.01.2012, decorrerá no dia 29 de Outubro um ciclo
de conferências vindas da Alemanha, da Grâ-Bretanha, de Portugal e da
Bélgica que darão uma visão actual da joalharia contemporânea em diferentes
perspectivas.
As conferência terão tradução simultânea em Francês, Neerlandês e Inglês.
Programa das conferências e o boletim de inscrição.
Uma excelente oportunidade para participar em mais um encontro sobre
joalharia contemporãnea.
Joalharia Contemporânea em Portugal • Autores e Lugares
O grupo eleito para representar Portugal na 4a edição da Trienal Europeia da Joalharia Contemporânea é um possível exemplo de autores de uma joalharia actual, sem restrições de formato, com liberdade e mestria, não só interessados em captar formas, mas sobretudo em fazer joalharia com conteúdos.
Portugal, geograficamente situado na fronteira mais sudoeste da Europa - país limítrofe – foi demoradamente recebendo a cultura visual desta disciplina e lentamente acompanhando as grandes transformações que se verificavam na Europa e na América do Norte ao longo das últimas décadas. Mas, mesmo perante uma realidade dura e isolada dos acontecimentos que se operavam em torno desta área de expressão no mundo exterior, existiram artistas que impulsionaram a joalharia, deixando-se contaminar pelos artistas plásticos seus contemporâneos, representativos das vanguardas dos anos 60. É o caso de Kukas (1928) e Gordilho (1943) dois pioneiros que revolucionam esta disciplina durante a década de 60, em Portugal.
Mais tarde, nos Anos 70 e 80, Tereza Seabra (1944) e Alexandra Serpa Pimentel (1954) - depois de uma formação no exterior, Nova Iorque e Reino Unido, respectivamente – regressam a Lisboa e fundam o curso de joalharia no Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação Visual (1978). Instituem, pela primeira vez, o ensino da joalharia em contexto artístico e incentivam os intercâmbios internacionais. Dando a conhecer o que estava acontecer pelo mundo, permitindo que também em Portugal grandes transformações ocorressem e que a nova joalharia portuguesa começasse a ter maior visibilidade no estrangeiro.
Não é demais ter presente que quando tudo isto acontece, tinham já passado vinte anos após as primeiras transformações no Centro e Norte da Europa. Foi apenas a partir dos Anos 80 que Portugal acordou verdadeiramente para as grandes mudanças que a joalharia de autor estava a sofrer no resto do mundo e que se começaram a desenhar mais percursos e carreiras de novos autores portugueses.
Têm sido muitos aqueles que, desde aí, se têm interessado por esta disciplina e conferido um grande investimento aos seus percursos, não obstante as dificuldades e os obstáculos com que se confrontam regularmente. A persistência das escolas, o surgimento e o trabalho contínuo das galerias, a permeabilidade e o interesse das instituições e a criação da PIN – Associação Portuguesa de Joalharia Contemporânea em 2004 - que implementou e tem vindo a consolidar uma plataforma de sustentabilidade e enraizamento da joalharia, no panorama das Artes e da Cultura em Portugal - têm vindo a criar novos alicerces, a abrir novas perspectivas e a combater a desistência.
O desafio a Portugal para participar na 4a edição da Trienal é mais um resultado da dinâmica que temos imprimido nesta disciplina, no continuo investimento no ensino, na curadoria e nas iniciativas que os autores portugueses tem originado e promovido.
Esta participação representa o trabalho recente de três gerações, com aprendizagens e vivências diferentes, atentas e contaminadas pelo panorama que se vive actualmente nas artes em geral e com um denominador comum que é a vontade de provar que existem autores portugueses e/ou residentes em Portugal que acreditam que a joalharia é uma forma de expressão artística.
Mas será que numa época histórica marcada pela globalização e pela banalização das fronteiras, pela contaminação de culturas, tendências e hábitos se conseguirá definir o que caracteriza a joalharia de autor realizada em Portugal?
Que diferenças encontramos entre a joalharia portuguesa e a joalharia alemã ou a joalharia belga também presentes nesta 4a edição da Trienal?
Esta será uma boa oportunidade para analisar estes aspectos.
Cristina Filipe
Curadora de Portugal na 4a edição da Trienal Europeia da Joalharia Contemporânea em Mons, Bélgica. Junho 2011
Junho 2011
Trienal Europeia da Joalharia Contemporânea em Mons
• Impressões e Fotografias
A exposição reúne o trabalho de 60 artistas de 3 países: Bélgica, pais anfitrião e Alemanha e Portugal, países convidados.
Cada país tem um curador, à excepção da Bélgica que tem: dois um para a parte francófona e outro para a parte flamenga.
A exposição tem lugar num antigo matadouro - um espaço que só por si é impressionante pela sua escala e pelo seu histórico.
O desenho da exposição é composto por vários núcleos expositivos. O mais imponente é um bloco central, intimista – cercado por umas paredes altas equidistantes que definem um percurso central na parte direita da sala, quando se entra. Ao percorrermos esse bloco podemos espreitar pelas nesgas verticais, defenidos pelos tespaços deixados entre as paredes anteriormente descritas, que deixam antever as jóias aí situadas.
As paredes altas brancas minimalistas e depuradas contrastam com a concentração de plintos e peças instalados no seu interior. Esse contraste inesperado condiciona-os o olhar tornando-o de certa forma “limitado”, impedindo-nos de ter um olhar imediatamente global e geral sobre uma quantidade massiva de peças, obrigando-nos a olhar por partes e fragmentos, condicionando-nos e ao mesmo tempo guiando-nos o olhar de um modo mais redutor e limitado.
Neste núcleo expositivo, em duas das extremidades bloco central, encontram-se os trabalhos de Paula Crespo e Edgar Mosa. No seu âmago vamos encontrando os de Manuela Sousa, Leonor Hipólito, Manuel Vilhena e Pedro Sequeira, em diálogo com as obras de Alain Debono (B), Hanna Joris (B), Peter Vermandere (B), Body Politics (De), Svenja John (De), Daniel Kruger (De), Katharina Moch (De), Julika Muller (De), Theo Smeets (De), Norman Weber, entre alguns outros.
Exterior a este núcleo central, mas ao longo do seu percurso de um dos lados, cruzamos um plinto que emerge verticalmente o trabalho “Speed” de Valentim Quaresma e, mais à frente uma grande mesa com as obras de Malvine Marichal (Be).
No final deste percurso, na zona limítrofe do lado direito de quem entra, uma vitrina em U percorre 3 paredes definindo um espaço expositivo dentro de uns moldes mais tradicionais e clássicos. Aqui, da representação portuguesa, surgem os trabalhos de: Catarina Silva, Ana Albuquerque, João Martins, Teresa Milheiro e Catarina Dias ao lado de Manfred Bischoff (De), Siegfried De Buck (B), Claude Recken ( B), Michael Becker ( De) Bettina Sepkener, Gerg Dobler ( De), Mari Ishikawa, entre outros.
Depois de contornar este grande U percorremos o outro lado do grande bloco central e nesse percurso intersectamos uma mesa e um fotografia de grande formato mostram-nos os trabalhos de Nelly Van Oost (B). Mais à frente deparamos com uma outra mesa desta vez fechada com acrílico protegendo as peças de Mirjam Hiller (De) e de Nilton Cunha (B).
Um pouco mais à frente e ainda do lado direito do bloco central duas instalações. Primeiro uma série de plintos sustentam um grupo de peças interactivas de Monique Voz (B) seguidas de um pequeno compartimento onde se pode entrar e ver vários manequins que apresentavam as peças de Daniel Von Weinberger (B).
Do lado oposto mais uma pequena instalação interactiva de Claire Lavendhomme ( B) uma serie de peças simulam um pequeno gabinete de curiosidades.
No outro lado da sala que acabei de descrever, encontram-se uma serie de vitrinas suspensas do tecto, qual “corpo de animal ” dependurado. Cada vitrina agrupa peças de 2 ou 3 artistas. As vitrinas embora de grandes dimensões, por estarem suspensas, transmitem uma enorme leveza.
Ao percorrermos esse espaço encontramos as obras de Carla Castiajo, Inês Nunes, Marília Maria Mira, Tereza Seabra e Hugo Madureira, ao lado de tantos outros que por vezes partilhavam as mesmas vitrinas, falo de: Marie –Ange Dumont (B), Delphine Joly (B), Maelle laduron (B), Dorothea Pruhl (De), Tabea Reulecke (De), Sam tho Duong (De),...
A exposição encerra deste lado da sala com uma instalação de Hilde de Decker, mas antes podemos ver suspenso numa das paredes o trabalho “a pele tatuada” de Diana Silva a anteceder a serie de colares suspensos de Jorge Manilla.
A forma como os trabalhos dos 60 artistas participantes surgem instalados na sala não cumpre um critério rígido e linear. O jogos e os diálogos estabelecidos são de certa forma subjectivos e discutíveis.
Pergunto-me, no entanto, se uma Trienal que dá enfoque à obra presente de 3 países não deveria reunir os trabalhos de cada pais em núcleos individuais (tal como o catálogo), permitindo assim ao publico obter uma percepção mas clara do que é actualmente a realidade de cada país. Podendo-se assim encontrar ou não respostas, mais ou menos evidentes, do que se vive, do que se pensa do que se faz em cada nação, de modo a nos perguntarmos se as diferenças existem e, se sim, quais são? Tornando mais notório as decalages entre cada país... Foi esse, infelizmente, o risco que a organização belga não quis correr, por recear que algum país se impusesse mais a outro...questão que a meu ver não se coloca, como podemos constatar pelo catálogo.
O modo como percorremos a exposição, através da forma como se apresenta, desfoca-nos a visão individualista e procura aquilo que hoje se fala tanto que é a globalização e a permanente contaminação que todos nós sabemos que existe e que é um facto. Desta forma, dificilmente conseguimos identificar intuitivamente de onde é e, de quem é cada obra...a não ser que saibamos quem é o autor e conheçamos bem o seu trabalho. Temos assim uma visão generalista de múltiplas obras e de múltiplos olhares de autores que dialogam, contrastam, chocam e ou se complementam.
Ambas as possibilidades são possíveis e ambas tem os seus prós e os seus contras. Mas, na minha visão, um desenho expositivo deve ser coerente com o pré suposto da exposição de modo a ajudar-nos na sua leitura e no modo como a percorremos.
As imagens que seleccionei ajudam a ver o que estou a tentar descrever com palavras.
Portugal, Alemanha e Bélgica diluem-se agradavelmente, mas fica a nostalgia de uma identidade que se desfoca.
Resta-nos tentar responder à pergunta: o que distingue estes 3 países?
Em traços largos a exposição – que retrata apenas a selecção de um possível grupo de cada país - sugere-me que há uma maior complexidade e ambição na parte técnica e matérica das obras alemãs reflexo de um legado e de uma história sólida e densa de escolas e autores – representada por uma grande variedade de suportes e uma certa homogeneidade na tipologia das obras das 3 gerações representadas, sempre com um carácter bastante decorativo e ornamental embora impregnado por vezes de uma mensagem mais politica ou social.
Na Bélgica, nota-se uma enorme diversidade de géneros e estilos. Autores de diferentes backgrounds exprimem-se autonomamente numa enorme multiplicidade de matérias e formas. Nota-se uma procura conceptual forte e um cruzamento constante com outras disciplinas, nomeadamente a moda, as artes plásticas e o design.
Portugal também procura diferentes suportes, embora a pesquisa técnica seja mais modesta e menos ambiciosa que a Alemanha. Existe um rigor e uma tendência para a depuração formal e uma certa efemeridade e desconstrutivismo, com uma procura bastante minimalista e redutora que busca sempre uma simbologia, um ritual ou uma ironia. Os trabalhos são mais secos, crus, muito menos ou nada decorativos, comparados com os alemães. Cruzam menos declaradamente outras disciplinas como os belgas. São talvez os mais poéticos.
O prémio da 4a edição da Trienal foi atribuido a Tabea Reulecke (De) e a Mirjam Hiller (De) recebeu uma menção honrosa. O Júri foi constituido por: Marie Jose van den Hout (Galerie Marzee), Jan Valke (Design Flanders), Nedda El-Asmar (Designer e Responsável pelo Departamento de joalharia e Professora na Academia de Belas Artes de Antuerpia),
Atribuir um prémio num contexto expositivo deste género é de uma grande complexidade, pois não existe critério que se aplique a uma tamanha diversidade de autores representativos de múltiplas gerações. O júri tem que eleger um critério apenas que obviamente é redutor e canaliza o prémio para um determinado perfil de autor, eliminando a partida muitas outras possibilidades. Um prémio será sempre um incentivo, e uma mais valia para quem o ganha, mas neste contexto não é com certeza um indicador do que mais relevante se fez ou se faz na actualidade. É aqui e será sempre subjectivo e questionável. Mas é bom que exista!
Se conseguirmos trazer esta exposição a Portugal, gostaria de a apresentar em 3 núcleos individuais, intensificando os aspectos mais marcantes de cada país demarcando-os no espaço.
Seria sem duvida uma oportunidade de continuar essa discussão aqui, proporcionando mais debate, aprofundando mais os nossos conhecimentos e colocando Portugal em foco para outros países. Trazendo a Trienal a Portugal, poderíamos promover um simpósio que intensificasse a discussão e que atraísse um publico internacional.
Cristina Filipe
Curadora de Portugal na 4a edição da Trienal Europeia da Joalharia Contemporânea em Mons, Bélgica.
Novembro 2011
info+:
WCC-BF
Site des Anciens Abattoirs,
Rue de la Trouille, 17/02
B-7000 Mons ( Belgique)
Tel : +32 (0)65 84 64 67
Fax: +32 (0)65 84 31 22
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