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Lançamento do livro "Sala do veado 20 anos"
Exposição Traces du Sacré ou le Pouvoir di Silence de Isa Duarte Ribeiro
Museu Nacional de História Natural
Dia 30 de Setembro ás 21:00h

“Traces du Sacré ou le Pouvoir du Silence" (2010)

 Isa Duarte Ribeiro

A presente instalação parte de um texto de Georges Bataille publicado no seu primeiro livro “História do Olho” (1928) e cuja obra abrange tanto o campo da Literatura, como o da Antropologia, Filosofia e História de Arte. O erotismo, a transgressão e o sagrado são temas recorrentes nas suas reflexões, nas quais se deslumbra a tentativa de transpor a tendência do pensamento ocidental, questionando não os alicerces mais profundos da subjectividade, mas sim libertá-los dos seus limites. Interessado em religiões orientais, experiências místicas e práticas associadas ao êxtase, descreve o erotismo como o dilema mais ambíguo e mais distanciado do ser humano. Expõe que os resultados inerentes da transgressão das interdições impostas culturalmente dão ao erotismo e à violência uma dimensão religiosa. É na transgressão e através da sequente experiência interior que são explorados os meios para se atingir uma dimensão mística sem uma identidade divina, sem um “Deus”.
Sem as interdições, o homem não teria podido alcançar a plena consciência de si mesmo. Estas não são impostas somente de fora, surgem também da angústia associada ao instante em que a interdição é transgredida, sobretudo no momento pendente em que ela ainda subsiste e no qual cedemos ao impulso a que ela se opunha. É a experiência do pecado, da contradição da consciência e da sublimação.
Para Bataille, a procura do homem em escapar ao limite das coisas, sem retornar à animalidade, tem a solução mediadora da festa, da liberação dos interditos, da abertura para o sagrado, estando (ainda) na esfera do profano. O autor sugere uma confluência, uma fusão de territórios e de contextos, para a satisfação do sujeito e para a sua realização na transcendência.
Neste trabalho de Isa Ribeiro, o primeiro de uma série relacionada com a obra do autor, é capturado o momento dessa mesma elevação, atingida através da violação do interdito. Como o próprio nome indica, a aproximação ao sagrado reside na experiência interior da sublimação dos limites, da transcendência pela transgressão.
A simbologia dos objectos aproxima-nos da mensagem contraditória pretendida, o cálice receptáculo do conhecimento e do vinho episcopal e a luz encarnada, tanto carnal como contemplativa.  
Apesar de se reconhecer o resquício de uma acção, a ausência de um corpo e a ambiência sugerida remetem-nos para algo etéreo, suspenso no limbo entre o terreno e o divino, entre a ordem e a desordem, entre o permitido e o proibido.
Texto Curatorial elaborado por
 Rita Morais de Andrade



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