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Leonor d'Orey com pendente em cruz da colecção do MNAA / Jóias Encontradas / Cristina Filipe - C.B.Aragão

Leonor d’Orey
Sócia Honorária


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www.mnarteantiga-ipmuseus.pt


Em toda a parte...Em lugar nenhum
Joalharia Contemporânea a partir das colecções do Museu de Arte Antiga

Se é essencial para a memória do presente e do futuro, dar a ver e conhecer obras admiráveis que fazem parte do nosso património, importa igualmente abrir as portas do Museu e sensibilizar um público cada vez mais vasto para propostas diversas de concepção actual nas suas mais recentes tendências. Este cenário, onde inter-agem obras e público, num diálogo que cruza os séculos, presta-se a estimular o desafio inventivo à criatividade artística e porque não à produtividade económica, propondo novos olhares e diálogos, que permitam encontrar ou (re)criar saberes e práticas diferentes e impor a sua personalidade através da criação de novas formas de expressão de qualidade,  perduráveis ou efémeras.
A joalharia portuguesa contemporânea merece actualmente ser considerada uma das expressões de maior vitalidade no país. Tem-se vindo a afirmar, com uma visibilidade internacional crescente, na pesquisa de novos vocabulários,  empenhada em dar expressão plástica a todo o tipo de materiais, independentemente do seu valor intrínseco, conjugando a utilização práticas tradicionais com os mais recentes e inovadores processos tecnológicos.
Como responsável pelas colecções de Ourivesaria e Joalharia deste Museu, tenho vindo a acompanhar atentamente desde o ínicio as novas propostas da ourivesaria contemporânea de autor e a evolução, que se seguiu à criação do Departamento de Joalharia no Ar.Co, sob a orientação de Tereza Seabra e Alexandra Serpa Pimentel. A qualidade do trabalho ali iniciado e posteriormente realizado trouxe novas ideias à tradicional arte da ourivesaria, propondo aos alunos uma formação técnica, aliada a uma total liberdade de criação, aberta a todo o tipo de propostas e com a possibilidade de utilização de todo e qualquer material julgado adequado á expressão de uma ideia, contribuíndo de forma decisiva para a redefinição do conceito contemporâneo de jóia... como uma forma de expressão de arte individual e identificada com novos valores socio-culturais.
Com considerável continuidade o Museu tem vindo a reconhecer esse trabalho e a apresentá-lo mediante a organização de diversas mostras de obras comtemporâneas criadas por professores e alunos, que tiveram início cerca de 10 anos antes de existir no Museu uma exposição permanente de Joalharia. Em 1985, realizou-se a primeira exposição Nova Ourivesaria no Museu de Arte Antiga, à qual se seguiu em 1988-89 A Linguagem dos Novos Materiais com a participação de 40 jóias portuguesa de professores do ArCo. Em 1995-96, efectuou-se outra mostra, esta no ambito da ourivesaria  Um Ourives & Sete Artistas trabalham a prata, com a colaboração do ourives Manuel Alcino e sete reconhecidos artistas que utilizavam a pintura, a escultura e a arquitectura como a sua forma habitual de expressão, mas que sentiram necessidade (e em boa hora) de utilizar a ourivesaria como linguagem alternativa ou complementar.Finalmente em 1997, a exposição Jóias para Alexandre de Medicis, com a artista-ourives Tereza Seabra, que a partir uma pintura da colecção do Museu,  imaginou e concebeu com extremo requinte um precioso conjunto de jóias, uma espécie de encomenda para Alexandre, o príncipe discreto, sedutor e artista,  tal como foi retratado por Jacopo Pontormo no século XVI.

E assim acontecerá mais uma vez .... agora de forma ainda mais abrangente, com a exposição Em toda a parte-Em lugar nenhum ( Everywhere-Nowhere) que o Museu acolhe com o maior interesse, por ocasião do X Simpósio Internacional Ars Ornata Europeana, no qual participam artistas de várias nacionalidades ligados na sua maioria à arte da Joalharia.
O objectivo proposto aos joalheiros portugueses (15) e estrangeiros (6) foi o de criar um dialogo-interactivo com as colecções do Museu, establecendo pontes entre o passado e o presente e estimulando a sua transferência inspiradora para a criação de jóias contemporâneas que serão integradas temporáriamente no percurso das colecções permanentes do Museu,  tornando-o assim  mais  vivo e actuante.
As obras dos artistas-ourives são testemunho do seu olhar e das memórias dessa interpelação proveitosa, que percorreu e envolveu todo o espaço interior e até exterior do Museu. Resultam do trabalho aturado de uma expêriencia oficinal, realizada com particular domínio da matéria - do desafio dos materiais e da sua tranformação surgiu, como era de esperar, um conjunto multifacetado de propostas diferentes do conceito de joalharia, que refletem a originalidade e a personalidade de cada criador, talvez mais do que, como outrora, a do seu utilizador.
Uma das propostas, gerou uma global e autêntica interação o entre colecção de joalharia e o pessoal do museu, criando com a fotografia uma galeria de retratos, onde cada um exibe a jóia que escolheu da própria colecção. Outra, deixa no espaço exterior do edificio uma marca de apropriação pessoal concebida pelo artista.  Noutra ainda, a jóia, inscrita em performance, envolve e protege, cobre e decora pessoas, movimenta-se e desenvolve-se em dança.
A tradição e a contemporaneidade podem agora apreciar-se novamente no Museu em itinerários vários que incluíndo esta mostra, vale a pena visitar ou revisitar,  deixando em aberto uma pluraridade de campos de visão e de reflexão.
A comparação de obras de épocas diferentes, permite ainda observar em paralelo o que se manteve e o que mudou quanto à matéria, à forma, à ornamentação e à função dos objectos. As peças revelam que a exigência de qualidade pode ser uma dimensão do quotidiano. E que, o trabalho dos materiais pode tambem proporcionar outras leituras para gestos e utilizações mais simples ou complexas, servindo outras linguagens, individualizadas, conjugadas com  saberes antigos.

Uma sensação de revitalização inesperada, quase mágica, misteriosa e lúdica, por vezes provocante de crítica ou de ironia, irradia das intervenções-jóias imaginadas pelos artistas que colaboram nesta  mostra.
Na evocação de uma peça ou de um conjunto, de uma colecção, de uma sala, do próprio edifício e até das pessoas que ali trabalham com as colecções.
Na escolha e disposição intencional das obras e na combinação de certos
Na liberdade com que olharam o museu e dialogaram com ele, interpretando e (re)criando numa linguagem versátil que lhes é própria... a linguagem das jóias, eterna e secreta, igual a si mesma, fiel ao seu espírito.....

16 de Abril  2005
Leonor ‘Orey

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